quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

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Há momentos em que os gestos parecem todos iguais, e todos vazios. Como uma mão que se estendeu e ficou sempre ali, patética, oferecida no final de um braço sem que a outra aparecesse para lhe compensar o esforço do movimento.Foi preciso mexer músculos, o coração teve que bater umas quantas vezes, mais acelerado na perspectiva do encontro, mais acelerado ainda na percepção de que não haveria encontro. Gastaram-se açúcares, oxigénio, e em mil processos metabólicos escrupulosamente controlados criou-se um ácido qualquer, que talvez não tenha sido convenientemente eliminado.
Às vezes dou por mim a questionar-me se este esforço que tenho feito para me superar a mim própria trará algum fruto que se possa trincar sem sentir uma certa acidez.Não é fácil, é uma estrada nova à minha frente, ou um caminho que já fiz, mas que vejo agora com outros olhos, e há buracos que tento evitar, e curvas mais apertadas que me fazem perder por momentos a aderência ao piso, mas tenho insistido.Tenho insistido calmamente, com paciência, porque acredito quase cegamente que estou na direcção certa, mesmo não percebendo bem qual é o destino final.E depois, por uma fracção de segundo, há um gesto, ou a falta dele, que me faz derrapar quase irremediavelmente.Fecho então os olhos, respiro fundo uma só vez, devagar, e volto a pensar que vou ser capaz, que tenho que ser capaz.